Polícia Civil aponta negligência na morte de operário na Arena Corinthians
As primeiras pessoas ouvidas pela Polícia Civil indicam que houve negligência do operário Fábio Hamilton da Cruz, de 23 anos, morto após uma queda de cerca de oito metros nas obras da Arena Corinthians. Responsável por registrar o caso e acompanhá-lo neste início, o delegado Rafael Pavarina, do 24º DP, no bairro da Ponte Rasa, em São Paulo, afirmou que os relatos são de "excesso de confiança" da vítima, que não se prendeu a um cabo de segurança durante um trabalho específico.
Fábio teve a morte confirmada por volta das 16h30 de sábado, em decorrência de múltiplas lesões – o operário ainda teve o pulmão perfurado e um traumatismo craniano. A equipe médica do Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, providenciou uma cirurgia de emergência, sem sucesso.
O corpo foi enviado ao IML Leste, no bairro de Artur Alvim, e não havia sido reconhecido por ninguém da família até a manhã deste domingo. A mãe de Fábio Hamilton da Cruz estava no hospital quando foi informada sobre a morte. Depois, ninguém foi à delegacia prestar depoimento.
Um técnico de segurança da Fast Engenharia, empresa responsável pelas obras nas arquibancadas temporárias da Arena, está encarregado de organizar a logística de velório e enterro. Em nota, a WDS Construções, terceirizada pela Fast e empregadora de Fábio, afirmou que irá prestar toda a assistência necessária à família, e deixou claro que o funcionário tinha todo o equipamento de segurança à disposição.
A nota vai ao encontro das oitivas realizadas pelo delegado Rafael Pavarina, que deve acompanhar a finalização da perícia no local, a partir das 14h deste domingo. O trabalho realizado pelo Instituto de Criminalística começou na tarde de sábado, mas foi interrompido pela falta de luz natural e instabilidade do piso na arquibancada sul superior – justamente o que Fábio Hamilton da Cruz e sua equipe instalavam no momento do acidente.
– Em oitivas informais que tive com funcionários que estavam ao lado da vítima, a primeira impressão foi de que a vítima negligenciou o uso de um equipamento de segurança – relatou o delegado.
De acordo com os relatos, Fábio teria dispensado a utilização do cabo vida, onde funcionários se prendem para evitar quedas de grandes alturas. O funcionário afirmou aos colegas que faria um serviço rápido e simples, e que não haveria necessidade de prender seu cinto de segurança ao cabo. Durante o percurso, desequilibrou-se e caiu de uma altura que causa divergência – oito metros, de acordo com a Fast Engenharia, de nove a dez, indicado pelo Boletim de Ocorrência, ou 15 metros, na estimativa do Corpo de Bombeiros.
– Ao que tudo indica, não foi uma ausência de equipamento. Foi uma negligência da própria vítima, a maior prejudicada por isso. É um tipo de trabalho em que o excesso de confiança causa eventos como esse. É um fato realmente lamentável – destacou Rafael Pavarina.
O laudo da perícia deve ficar pronto em até 30 dias, e ele irá esclarecer melhor o cenário do acidente. O delegado conversou com o técnico de segurança por mais de duas horas na noite de sábado, na sede do 24º DP. A partir da próxima semana, o inquérito policial será conduzido pelo 65º DP, em Artur Alvim, local que atende a região do estádio, mas que não funcionava no dia do acidente.
Fonte: Globo.com